segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Se humilhe sem perder o orgulho

É incrível como mudamos nas fases da vida. A adolescência tira toda a confiança que sentíamos quando crianças. Confiávamos que todos os amigos seriam sempre dedicados a ajudar quando fosse necessário, mas, na verdade, por comodismo e individualismo tornam-se irrelevantes com a desculpa de não saber como melhorar a situação.
Talvez seja culpa de nossa cultura. Quando jovens acreditamos que o melhor amigo ou um bom namorado seja alguém engraçado e simpático que sempre concorda com suas decisões, mesmo que involuntariamente, ao invés de preocuparmos em ter ao lado pessoas caridosas e de bom caráter que discordam a fim de dar bons conselhos.
Isso entre outros obstáculos que enfrentamos durante a vida, como o desemprego, a falta de recursos e os problemas em geral, praticamente cega os jovens que acham que a felicidade se encontra de imediato, mas as conseqüências desse fato desencadeiam a provável desilusão refletindo na vida adulta: o medo de se arriscar e a necessidade de protegerem-se o tempo todo.
Por isso, é muito mais fácil para um jovem impaciente perdoar uma falha que um adulto cauteloso. Os primeiros acreditam fielmente no sucesso enquanto os segundos sentem-se desmotivados.
Não é necessário sermos tão radicais a ponto de erradicar as esperanças. Precisamos avaliar os erros e repará-los, mas nunca deixar de ser quem somos.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Observação

É horrível vê-la chorando, se contorcendo o máximo possível de dor mesmo após perder seus movimentos.
Imagine que ninguém possa entender o que você tem a dizer, que você ouve tudo que está acontecendo, as declarações de óbitos, os gritos e o ranger de dentes de outros pacientes; você sente vários fios interligados ao seu corpo, um medidor de pressão continuamente em uso, e um tubo conectado diretamente à sua traquéia; sua família implora para que você pronuncie algo e melhore, ela clama, faz preces, fica desesperada por uma reação qualquer, e você não consegue nem mesmo piscar o seu olho com coerência.
Isso deveria ser tão polêmico quanto às pessoas enterradas vivas, mas não é algo tão direto, implica em reflexões as quais o mundo não está habituado a refletir.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Abortar a operação

O caso da menina de 9 anos engravidada de gêmeos por estupro de seu padrasto gera polêmica à medida que feito um aborto foi alertada de que os médicos envolvidos e sua mãe seriam ex-comungados pela Igreja Católica por apoiarem a cirurgia que matou os fetos considerados inocentes e não fazer o mesmo com aquele que a desflorou.
À primeira impressão, este fato pode parecer banal, porém é necessária uma separação do poder estatal e o da Igreja, somos um país laico, há leis opostas que podem coexistir. Portanto, a sentença do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva é adequada: “Como cristão sou contra o aborto, mas como chefe de Estado tenho que tratar como uma questão de saúde pública”.
Sabendo que o catolicismo prega que o aborto é motivo de excomungação, uma pessoa que obedece às leis do catolicismo, como ir à missa todos os domingos, confessar pelo menos na Páscoa, jejuar na quarta-feira e sexta-feira santa, entre outros mandamentos da Igreja, sabe das exigências que devem ser seguidas.
Portanto, para uma pessoa que não pratica a comunhão, não é uma ameaça ser excomungada; esse seria o caso dos médicos que optaram a prática. No caso da mãe, além desse fato, ela tinha conhecimento do caso que ocorria em sua casa por 4 anos sendo tão culpada quanto o atual marido. Este cometeu pecado grave, mas considerado pela igreja de possível arrependimento por parte dele. A menina não foi excomungada, pois ela é ainda considerada inconsciente de seus atos.
A visão do Estado de acordo com o Artigo 128 do Código Penal, afirma que o aborto é legal em duas situações: quando não há outro meio de salvar a vida da gestante e em caso de gravidez resultante de estupro. No caso, a menina seria favorecida em ambos os motivos, pois sua estrutura óssea poderia causar fraturas graves por ter somente trinta kilos.
Seu padrasto, todavia, seria punido de acordo com o Artigo 213 do Código Penal com a reclusão de seis a dez anos por constrangê-la à condição carnal.
Podemos ver o nítido contraste entre a forma de julgamento entre as duas instituições. Mas será que existe realmente essa total divisão? Por que o aborto não é totalmente legalizado se 20% das mulheres que tentam a interrupção ilegal acabam com graves perfurações de útero, hemorragias e infecções?
Há explicações convincentes para isso. Calcula-se que a metade dessa porcentagem corresponde a adolescentes cujos pais não aprovam essa medida e acabam cometendo delitos contra seu próprio corpo, logo, não existindo autorizações dos responsáveis, não faria diferença na estatística. Outro fator é a banalização da relação sexual, é provável que com a liberação da cirurgia, diminua o número de relações seguras com preservativos por poderem se recorrer a outro método caso ocorra a fecundação. E para a saúde da mulher, muitas não são informadas que pode ocorrer laceração do colo uterino, favorecendo abortos sucessivos e partos prematuros, esterilidade, frigidez (perda do desejo sexual), depressões, desordens nervosas, entre inúmeras conseqüências.
Uma sociedade não pode liberar uma lei que irá matá-la, que irá constituir de indivíduos com inúmeros defeitos em conseqüência de abortos provocados anteriormente; ela precisa salvar vidas, pois já existem muitos outros tipos de mortes injustas.

quarta-feira, 11 de março de 2009

A razão da dor

Meu caminho oscila entre escuridão e luz,
é sua decisão que me conduz.
Minha vida eterna passa em um segundo,
como se me levasse ao fim do mundo.
Mas seu espírito me levanta e me salva,
como se estivesse ligado a minha alma.

Fecho os olhos e está em meu pensamento,
e por não ter você aqui isto é um tormento.
Quando lhe vejo é como se eu estivesse superado,
não parece tão distante seu olhar abandonado.
Imploro seu toque sem palavras consumadas,
sempre me acolhe e estou realizada.

Tenho medo que se percam nossas juras,
pois sei que o coração o tempo cura.
Mas o meu sempre pertencerá ao seu,
desde que te vi ele resplandeceu.
E agora meu objetivo tem mais sentido,
com este sangramento tão colorido.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

é difícil conviver;

Quando pequena os adultos me diziam para ter respeito com os mais velhos; hoje, até as pessoas da minha idade cobram esse ato de considerar e honrar, mas a maioria delas não as pratica; talvez não dêem tanta importância em fazer o mesmo que exigem.
Acatar, além de ser educado e valorizar opiniões, é honrar e tratar com reverência. Quem não gosta de se sentir valorizado e ser o dono da razão? Pedir respeito é tão fácil quanto ordenar que não haja guerras em Israel ou que descubram o segredo da imortalidade, mas conseguir que sejam cumpridos é tão difícil quanto as realizações destes. O grande motivo é que se alguém pede que aceitem sua opinião mesmo que a achem errada, ele não fará o mesmo a outra.
Deve ser esse o motivo para que os adolescentes não concordem com seus pais. Apesar de tudo que eles já viveram, eles não sabem sobre tudo, eles têm muito que aprender. Mas tenha certeza de que só querem te ajudar, proteger, e se o aconselham é por esse motivo, e não pra se impor. É necessário que você compreenda isso e retribua fazendo-os felizes.
Quando não se trata de educadores, ainda não significa que é dispensável, apenas temos aquela visão de respeito muito egocentrista que nossa sociedade nos impõe. Se todos pensassem que serve para incluir as pessoas ao seu redor, oposto a criar barreiras no relacionamento humano e perder a intimidade com as pessoas ao saber que é necessário precaver as palavras para não ofender alguém, talvez não existisse tantas pessoas tímidas. Respeitar deveria ser apenas dar importância para os gostos das pessoas, aceitá-las da forma que são, dar conselhos puros, mostrar seu ponto de vista sem constranger; se não conseguir, nunca a abandone, viva com isso e fique feliz por ter feito sua parte, assistir.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

nel modo più sincero che c'è

Ao entrar no hospital, subi as escadas até o corredor que indicava ‘U.T.I. e Centro Cirúrgico’. Já eram oito horas, o horário de visita acabara de começar, porém ninguém liberou a entrada dos inquietos parentes desoláveis. A mulher ao meu lado estava sentada timidamente, muito longe do encosto da poltrona; ela estava com as palmas da mão viradas uma para a outra na altura da boca, rezando? Fiz uma prece para todos os infortunados daquela seção. Meus olhos transcorreram o chão e focalizaram uma mancha de sangue seca, mas todos pareciam transtornados demais para notar. Ouvi um grito estridente de dor, e em seguida a porta de onde ele vinha foi aberta: uma mulher com os olhos inundados se retirou dando passos largos e seu marido tentava acompanhá-la sem sucesso. Outras duas louras mulheres atraentes derretendo-se em choro alto atravessaram em seguida. A sala parecia finalmente em silêncio, até um homem que permaneceu sentado desde quando cheguei levantar-se e rumar a porta que dava acesso aos pacientes. Os casais voltaram a murmurar seus pêsames ou terminarem de bisbilhotar alguma intriga: que lugar melhor que um hospital para enredar? Eu parecia a única pessoa que estava simplesmente feliz por estar no local. Eu seria culpada por me apresentar sorridente? Talvez não, ninguém me notava.
Meu pensamento oscilava entre a beleza da medicina e a da fé. Quanta descoberta, tecnologia, prática, abordagem, conhecimento; e o mais impressionante: garantir os estados mentais, físicos, psicológicos e sociais de uma pessoa, visando seu bem estar, o bem estar de todos. Quantas pessoas clamando por um milagre, se sentindo confortadas por saber que logo estarão no paraíso eterno, quantas vêem Deus naquele minúsculo recinto para sua grandeza, Ele é amor, e Ele está presente. Para mim, tudo era bom. Seria eu condenada por achar o sangue escorrido, a dependência obsessiva de cura e até a morte tão graciosos?
Finalmente um enfermeiro anunciou o nome dos pacientes que poderiam ser visitados, entrei. Vi a mais bela avó, a guerreira, apesar de sua forma incapacitada, ela era linda. Cada palavra que eu dizia, podia sentir uma resposta. Quando contei sobre meu sonho em família detalhadamente, seu batimento cardíaco acelerou; ao dizer o quanto as pessoas a amavam ela parecia querer afirmar: ‘eu também vos amo’. Acariciando sua pele, o tempo passou repentino, dei-lhe um beijo e me retirei.
Já estava tarde quando cheguei a minha casa. Deitei-me em meu leito e senti meu corpo num intenso calafrio. Nenhuma coberta me aquecia, retraía-me contorcionando meu próprio corpo. Uma brisa de insegurança me atingiu, eu estremeci, caiu uma lágrima, duas; gemi, meus dentes batiam freqüentemente, meu ouvido tampava à medida que movimentava meu maxilar, minha face endureceu, minha barriga ressonava um murmúrio baixo, o estômago latejava, abracei a dor e a fraqueza dominou-me.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

before nothing can be done

Acordei com a luz ofuscando meus semicerrados olhos. Ao invés do esperado mal-humor, o sorriso me atingiu a face majestoso ao fitar o imenso mar cristalino. As ondas batiam tão sutilmente de modo eu poder fielmente acreditar que elas apenas existiam devido à respiração dos minúsculos peixes visíveis da margem, a água deixavam viva, alegre e colorida. Talvez o vento ainda não houvesse despertado, apesar dos bem-te-vis estarem proclamando a chegada do novo dia desde o primeiro raio de sol. Até que senti uma leve brisa vindo a minha direção e antes que eu pudesse me virar, a voz doce e inconfundível sussurrou em meu ouvido, logo após retirar quase despercebidamente uma mecha de meus cabelos: ‘trago-lhe hoje uma lembrança’. Meu peito doía de tanta felicidade. Agora eu sabia por que motivo eu me encontrava naquele lugar deserto, ou quase, e tão maravilhoso. Eu havia conquistado o amor ideal, aquele que as pessoas se sentem tão compenetradas que parecem apenas uma, não há mais nada ao redor paralelo para elas. Mas não era um simples amor, era divino, o maior de todos.
Eu me sentia agora independente e complacente, minha alma era lúcida, forte e dotada de sabedoria, meu coração estava confortado na imensa graciosidade; nada poderia me extraviar de seu caminho agora.